Ronaldo Lemos – FSP/TEC – 01.10.12
Uma das promessas não cumpridas da internet é
de que haveria uma "revolução" da memória. Os conteúdos digitais
ficariam imunes às intempéries do mundo físico, permitindo preservar para
sempre as criações humanas, traduzidas em simples bits e bytes. Não funcionou.
Internet Archive lança serviço com vídeos de
21 emissoras de TV
Tudo o que vai parar no mundo digital é
efêmero. A tecnologia renova-se, e os formatos ficam obsoletos. Universos
inteiros de dados desaparecem ou ficam inacessíveis o tempo todo. Foi o que
ocorreu com o Geocities, precursor das redes sociais. Em 1999, era o terceiro
site mais acessado do planeta. Em 2009, deixou de existir (há um pouco dele no
Internet Archive, mas muito se perdeu).
No Brasil, Caetano Veloso queixou-se no jornal
"O Globo" sobre o tema. Seu blog Obra e Progresso, criado no processo
de gravação do álbum "Zii e Zie", sumiu também. Para alívio da situação
(e dos fãs), parcelas do site estão no Internet Archive.
Só que o Internet Archive não resolve toda a
questão. Grande parte dos conteúdos na rede hoje está atrás de
"muralhas" fechadas, como o Facebook e outras redes sociais. O
Internet Archive não entra ali. Só arquiva o que está aberto na rede.
Outro problema são os direitos autorais. Pela
lei brasileira, preservar qualquer conteúdo requer autorização do autor e
titulares.
Pela lei americana, essa autorização não é
necessária. O Internet Archive pode armazenar tudo, desde que retire conteúdos
específicos em caso de reclamações.
Há no Ministério da Cultura uma proposta para
reformar nossa lei, autorizando o arquivamento. Até a sua aprovação, a chance
de surgir um arquivo abrangente da rede no Brasil é zero.
Isso traz mais preocupações. Por exemplo, o
Orkut. Apesar de muita gente torcer o nariz para o site hoje, ele é o mais rico
e detalhado documento do período de 2004 a 2011 no Brasil. Registrou fenômenos
como a ascensão da classe C, transformações no uso do português, além de
inúmeros dramas pessoais.
Há muitos temas dos últimos anos visíveis pelo
Orkut, preservados em registro microscópico. Mas basta uma decisão do Google
para tudo ficar inacessível.
A Biblioteca do Congresso dos EUA já preserva
a memória digital. Nossa Biblioteca Nacional deveria fazer o mesmo, a começar
pelo Orkut.
A conclusão é simples. Se há algo importante
para você armazenado na rede, vá lá e faça um back-up no seu computador. E não
deixe para amanhã.