Vida Digital - Bloco de Notas

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Aposta de big techs, metaverso ainda tem pouco de real e muito de virtual

Ambiente é apontado como próximo passo na evolução de como as pessoas interagem online

Raphael Hernandes, FSP 9.jul.2022


Quando o Facebook virou Meta, em outubro do ano passado, seu fundador e CEO, Mark Zuckerberg, foi o porta-voz responsável por explicar a visão de futuro da empresa. Algo que ele e outros executivos do setor chamam de metaverso.


Em um vídeo de pouco mais de uma hora, Zuckerberg aparece na sala de uma casa.


De lá, ele é transportado para ambientes virtuais. Neles, o executivo vira uma cópia de si mesmo no formato de um boneco em 3D, ou avatar, que se encontra com amigos nesse espaço digital, joga, vê obras de arte interativas. Tudo parte de uma ideia de futuro online.


Hoje, metaverso virou um dos principais temas no setor, embora ainda tenha pouco de real e muito de virtual —o que contribui para que ninguém saiba direito o que ele é.


Em alguns momentos, o vídeo de Zuckerberg esbarra na ficção científica, demonstrando tecnologias que ainda não existem. E isso tem razão de ser: é justamente desse tipo de literatura que vem a ideia do tal do metaverso.


Trata-se de uma espécie de aposta dos grandes barões do mundo tech. Eles imaginam que a sociedade passará a interagir com o mundo online de forma mais imersiva. Com isso, passaram a desenvolver serviços e apetrechos pensando nessa realidade.


Como é algo que ainda não está posto, não dá para descrever exatamente o que é o metaversoou como serão as coisas nele. Para entender, talvez seja melhor olhar para trás antes de pensar no futuro.


É difícil dizer como será essa vida online da mesma forma como era bem improvável, em 2000, dizer que teríamos hoje um dispositivo na nossa mão que permitiria pedir um carro por meio da internet. Menos ainda prever o quanto isso afetaria a mobilidade urbana, por exemplo.


internet foi mudando aos poucos até chegar à forma que conhecemos hoje. Começou por meio de textos numa tela de computador, depois imagens e vídeos apareceram, ainda no desktop, e só na última década virou uma experiência majoritariamente acessada por celulares —e, com isso, chegou a mais gente.


Matthew Ball, investidor de risco e autor de "The Metaverse and How It Will Revolutionize Everything" (o metaverso e como ele revolucionará tudo, a ser lançado em inglês pela editora W.W. Norton neste mês), lembra que a internet móvel não substituiu a arquitetura do mundo online até então existente.


"Na verdade, a grande maioria do tráfego de internet hoje, incluindo os dados enviados para dispositivos móveis, ainda é transmitido e gerenciado pela infraestrutura fixa [em computadores]", escreve Ball na série de textos "Metaverse Primer", uma das mais célebres sobre o assunto.


Algo semelhante deve acontecer com o metaverso. É um próximo passo na evolução de como as pessoas interagem com as tecnologias online, e não um substituto à internet atual. Se a internet antes ficava na tela do PC e agora está também no celular, no futuro estará nesses novos sistemas, mais imersivos.


Não é meramente um dispositivo (tipo um óculos), assim como um celular não é a internet móvel. Tampouco é simplesmente um lugar, ou um universo paralelo. No espaço, existiriam vários mundos e serviços, como hoje temos aplicativos e sites.


Há quem fale em uma conexão quase constante, com bilhões de dispositivos online ao nosso redor o tempo todo.


Por outro lado, há quem espere uma postura que lembra a atual: acessamos os serviços quando nos interessa e deixamos os dispositivos de lado quando não.


"Um problema é que tecnologistas não nos deram boas razões de por que iríamos querer viver nesse mundo digital+real que imaginaram", escreveu Shira Ovide em sua newsletter de tecnologia no jornal The New York Times. "O que esse negócio consegue fazer que meu telefone não consegue?"


Impossível ignorar, no entanto, o quanto de dinheiro está sendo despejado nessa área por empresas influentes. Em seu relatório para investidores no terceiro trimestre do ano passado, a Meta falou em U$ 10 bilhões (R$ 51 bi) de investimentos no seu laboratório de pesquisas só em 2021.


Outra gigante do setor e acostumada a lançar tendências, a Apple também prepara sua investida no metaverso. Um dispositivo com o desenho da maçã focado nessas tecnologias imersivas deve chegar ao mercado no próximo ano, aponta o The New York Times.


Ou seja, goela abaixo ou não, parece ser para esse lado que as coisas se encaminham. A mudança, no entanto, não deve ser imediata. É esperada para as próximas décadas.


O momento é de construção das estruturas necessárias para o metaverso.


Muito desse mundo passa por conceitos de realidade estendida, que engloba a realidade virtual e a aumentada.


No caso da realidade virtual, o usuário coloca óculos específicos para ver o mundo como se estivesse num ambiente digital. Na aumentada, usando óculos ou algum outro dispositivo —tipo a tela do celular— são adicionados elementos à visualização do mundo real. Exemplo disso é o game Pokémon Go, no qual os monstrinhos aparecem no telefone como se estivessem na sala de casa.


E aí começam os engasgos. Os óculos podem custar mais de R$ 10 mil (versões mais simples entre R$ 2.000 e 3.000) e exigem computadores potentes para funcionar. Além disso, são meio desengonçados. É necessário, portanto, tornar esses equipamentos mais baratos e agradáveis de usar.


Só que a ideia de metaverso não passa só por apetrechos —é estar mais inserido nesse mundo virtual, e gadgets são só um dos meios para isso.


Dois exemplos já existentes, que não usam óculos especiais, vêm dos games. Fortnite e Roblox criam mundos virtuais nos quais as pessoas, por meio de seus avatares, podem interagir, explorar, participar de eventos, vestir seus bonecos com conteúdo personalizável, fazer transações.


Eles são, porém, universos isolados. Se uma pessoa compra algo num jogo, não há portabilidade para o outro. Pensando num cibermundo com vários universos interconectados, é necessário criar os caminhos para essa ponte.


Isso é parte de um trabalho de fundação do metaverso, que está em curso.


O mesmo se aplica a conexões entre diferentes tipos de dispositivos, para alguém com um celular simples ser capaz de acessar o mesmo espaço que um amigo num computador de última geração e óculos de realidade virtual.


Além de tudo, é necessário todo um ecossistema em volta para que esse espaço se concretize. A era da internet móvel só foi possível porque havia uma rede de desenvolvedores criando apps que a tornavam útil e porque a conexão (3G e 4G) existe.


Para funcionar, as aplicações que passam pelo metaverso têm alta demanda de internet. O 5G é uma opção, mas está longe de ser amplamente adotado.


Numa chamada por vídeo, um atraso pode ser apenas um incômodo. Com realidade virtual, pode trazer náusea —e talvez fique difícil, mesmo com os bilhões do Vale do Silício, convencer as pessoas a adotarem uma tecnologia se elas precisarem limpar a roupa a cada ligação.


https://www1.folha.uol.com.br/seminariosfolha/2022/07/aposta-de-big-techs-metaverso-ainda-tem-pouco-de-real-e-muito-de-virtual.shtml?


Uma agenda de tecnologia para o Brasil

País precisa de uma agenda incisiva para buscar desenvolvimento

Nesse contexto, a agenda brasileira tem de ser incisiva. O primeiro elemento é criar uma política nacional de dados. Os dados públicos são um dos maiores ativos do país para fomentar a inovação. É preciso colocá-los para gerar riqueza e processos de inteligência.

Vou dar um exemplo. O país tem a nota fiscal eletrônica, que é uma conquista em si impressionante. No entanto, os dados gerados por esse sistema não são usados em todo seu potencial.

Analisando o agregado das notas fiscais do país seria possível medir a atividade econômica de forma granular. Entender quais setores estão decolando, formação de preços, movimentos da demanda e da oferta, competitividades regionais e assim por diante.

Esses dados, se bem modelados e tratados, poderiam transformar o país em uma potência de inteligência produtiva, criando forças capazes inclusive de fomentar desenvolvimento local.

Essa é uma aplicação poderosa. Uma política nacional de dados pode ir muito além. Ela deve olhar os dados públicos como o principal insumo existente no país para a inovação.

Desenvolvendo mecanismos de acesso, seja na forma de APIs abertas, sandboxes e outros modelos ágeis de parcerias público-privadas. Acesso a dados em si têm tanto poder de desencadear processos de inovação quanto capital intensivo. Precisamos acordar para isso, não temos tempo a perder.

Além de uma política nacional de dados, a agenda é ampla. O 5G precisa ser aplicado em atividades de grande escopo, como indústria 4.0, administração das cidades, no setor de saúde e na conexão de todas as escolas públicas do país com banda larga de primeira qualidade. Se o 5G ficar orbitando apenas consumidores individuais mais ricos das grandes cidades, vamos falhar miseravelmente. Nesse caso teria sido mais barato ficar com o 4G e aguardar a próxima onda.

Fomentar GovTech é também essencial. É preciso transformar o setor público em plataforma digital. Inclusive com a criação de uma identidade digital verdadeira e gratuita para todos os cidadãos e cidadãs. O país precisa decidir também o que quer fazer com a transição energética.

Como balancear as riquezas fósseis do território brasileiro com uma transição para eletricidade, baterias e fontes renováveis. Nosso futuro de longo prazo vai depender desse balanceamento inteligente.

Precisamos também migrar para um agro de fundamento científico. O país não pode se contentar apenas em ser competitivo na ponta da produção. É preciso competir em patentes agrícolas, em cultivares e nos insumos protegidos por propriedade intelectual. Idealmente, trabalhar a partir da Embrapa para que exista uma Syngenta brasileira, só que com base no contexto local e com sustentabilidade. O agro precisa migrar cada vez mais para o lado inteligência produtiva.

Por fim, mas não menos importante, retomar nossa soberania digital, para que não sejamos só consumidores ou vítimas dos avanços tecnológicos produzidos fora do país.

Para isso, é essencial pensar em parcerias internacionais, não apenas com EUA e Europa, mas com China e Índia. Tudo isso é possível. Nosso dever como pais é juntar conhecimento, conectividade e infraestrutura para fomentar a economia do conhecimento para todos e todas.

Já era – Selo azul do Twitter só para pessoas verificadas

Já é – Selo azul do Twitter para quem quiser comprar

Já vem – Confusão generalizada e descrédito total do sistema de verificação do Twitter


Opinião - Ronaldo Lemos: Uma agenda de tecnologia para o Brasil

quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Inteligência artificial que desenha vai sacudir o mundo

Você digita uma frase, e a IA materializa as palavras em imagens

Ronaldo Lemos, FSP, 23.out.2022

A tecnologia mais disruptiva da atualidade não é nem o metaverso nem a Web 3. A revolução que está sendo cozinhada para valer —com profundo impacto social, econômico e político— está ocorrendo no campo da inteligência artificial. Trata-se da disseminação das ferramentas de criação chamadas "generativas".

Elas funcionam da seguinte forma: você digita uma frase descrevendo alguns elementos, e a inteligência artificial, como que por mágica, cria imagens materializando as palavras que você acabou de escrever. Por exemplo, para escrever este artigo, digitei a seguinte frase: "Professor esnobe e estúpido sentado em um cacto comendo cana de açúcar".

Na mesma hora a inteligência artificial produziu a imagem automaticamente. Representou o "professor esnobe e burro" como um homem de meia-idade com barba e bigode, usando óculos, terno e gravata. Esse professor está sentado sobre um cacto verde com espinhos, enquanto sua mão vai em busca de um galho marrom.

Vale notar que não especifiquei nenhum dos elementos da imagem. Tudo que entrei no sistema foi a frase acima. A inteligência artificial fez todo o resto, materializando com base em seu algoritmos e no seu banco de dados a imagem que melhor representava esses elementos na sua "visão".

A plataforma que utilizei chama-se Dall-E (uma corruptela de "Dali", em homenagem ao surrealista catalão). Ela foi desenvolvida pela empresa Open AI, que possui investimentos de pesos-pesados, inclusive a Microsoft. Até há uma semana a plataforma era fechada só para especialistas e convidados.

Há alguns dias ela se tornou pública e já conta com 1,5 milhão de usuários. Não será surpresa se em pouco tempo atingir algumas centenas de milhões.

Essas ferramentas podem gerar questões hoje difíceis de imaginar. A primeira é que democratizam habilidades restritas a grupos específicos. Por exemplo, o número de pessoas capazes de desenhar bem é um contingente delimitado e relativamente pequeno. Com essas ferramentas, a habilidade de desenhar se democratiza. Alguém totalmente inábil passa a conseguir criar imagens satisfatórias usando inteligência artificial.

O segundo ponto é que essa democratização pode desvalorizar o trabalho especializado de quem desenha. Isso reduz empregos, oportunidades e trivializa uma habilidade humana admirável.

Outro problema é o uso dessas plataformas para finalidades maliciosas, incluindo fake news e manipulação social. Nesse sentido, o Dall-e possui salvaguardas. Não permite a criação de imagens violentas, de cunho sexual, difamatório ou baseadas em pessoas comuns ou personalidades políticas.

No entanto, já existem outras plataformas concorrentes que não possuem esses filtros e permitem o uso irrestrito desse tipo de ferramenta para a criação de pornografia, deep fakes ou violência, de modos inconcebíveis. Muitas dessas imagens já começam a inundar a internet e as mídias sociais. Além disso, em breve essas ferramentas poderão ser usadas não apenas para gerar imagens mas também música e filmes autogerados por inteligência artificial.

Tudo isso é sinal de que o mundo está prestes a ser sacudido de novo por uma tecnologia nova, com consequências difíceis de prever.

Já era — Celulares sem conexão à internet

Já é — Smartphones

Já vem — A chegada de smartphones sem tela, que funcionam só por áudio


Opinião - Ronaldo Lemos: Inteligência artificial que desenha vai sacudir o mundo

quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Nairobi: A Savana do Silício

Quênia prioriza serviços financeiros como motor de inovação mais ampla

Como diz o excelente livro do economista guineense Carlos Lopes (África em Transformação: Desenvolvimento Econômico na Idade da Dúvida), o continente africano está sendo transformado por três grandes tendências: mudança climática, demografia e tecnologia.

A primeira traz desafios enormes e oportunidades para migração para energias verdes, sobretudo solar. A segunda representa um continente demograficamente jovem, com grande vitalidade e criatividade. A terceira diz respeito à conectividade que hoje é real e à expansão da economia do conhecimento na África de modo geral.

É nesse contexto que se insere a Savana do Silício (Silicon Savannah), que fica no Quênia e tem seu epicentro na capital, Nairobi. A cidade de Nairobi hoje é o sexto maior centro financeiro do continente. Uma de suas características é a inovação no setor bancário, pagamentos e fintechs. Afinal, o Quênia é o país que inventou o M-Pesa.

Trata-se de uma das primeiras formas de transferir dinheiro de forma 100% digital pelo celular. O M-Pesa foi criado em 2007, quando ainda não existiam smartphones (o iPhone só foi lançado em junho de 2007).

No seu primeiro formato, usava apenas a tecnologia de mensagens por SMS para permitir transferências digitais. Hoje, 15 anos depois, o M-Pesa tornou-se uma multinacional presente em vários países do continente. Andando pelas cidades africanas é fácil encontrar postos de atendimento e também outdoors anunciando a marca.

Só que o M-Pesa é só a ponta de lança de um ecossistema muito mais complexo. Nairobi tem atraído capital internacional e tem sido objeto de políticas governamentais bem-sucedidas de apoio à inovação.

Isso é visível nas diversas incubadoras e espaços de trabalho colaborativo. Dentre elas o iHub, que já lançou mais de 450 startups no país. Ou ainda, o Nairobi Garage, espaço de trabalho com três unidades diferentes na capital, abrigando mais de cem startups.

Foi em Nairobi que surgiu também o Ushahidi, plataforma tecnológica cívica para promoção da democracia e participação pública. O site foi criado também em 2007 após os graves conflitos que se sucederam às eleições presidenciais. Como causa, a desconfiança com relação ao processo eleitoral.

Foi nesse contexto que o Ushahidi criou uma plataforma para fiscalização das eleições que depois se converteu em espaço de mobilização da sociedade civil. Por exemplo, durante a crise da Covid-19, o site foi usado para coordenar a resposta do Quênia à pandemia. Toda sua tecnologia é open source, e tem sido utilizada em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil.

De 2007 para cá houve muito progresso nessa área. Tanto que a última eleição presidencial queniana, finalizada na semana passada e altamente polarizada e contestada, não resultou em nenhum episódio de violência significativo, apesar da tensão. Neste momento Nairobi, lugar onde este artigo foi escrito, está com vida normal.

Como também diz o grande Carlos Lopes: "Os países só são bem-sucedidos quando têm muito poucas prioridades". É nesse contexto que o Quênia tem encontrado sua vocação: priorizar serviços financeiros como motor de inovação mais ampla. E é nessa área que o Brasil encontra-se totalmente perdido. Não temos planos, nem rumo, nem prioridade quando o tema é inovação.


Já era – só haver um "vale do silício"

Já vem – hubs de inovação em toda parte, como o São Pedro Valley, em Belo Horizonte

Já vem – hubs de inovação no continente africano ganhando destaque


Opinião - Ronaldo Lemos: Nairobi: A Savana do Silício

sábado, 30 de julho de 2022

Não vá com muita sede ao pote da tecnologia

Desejo de se atualizar tecnologicamente é compreensível, mas é uma corrida que não podemos vencer

Maria Inês Dolci - 19.jul.2022

Prezados (a) early-adopters (pessoas que topam pagar mais por uma novidade tecnológica), o momento não é de gastar, é de economizar. Mesmo quem ainda tem emprego, renda razoável e, por milagre, registro em carteira, não sabe como será o dia de amanhã. Quando os efeitos da PEC dos Auxílios e daredução do ICMS sobre combustíveis, energia elétrica, serviços de telecomunicações e transporte público cessarem —pouco depois da eleição presidencial–, o cenário econômico vai ficar ainda mais desafiador.

Matéria desta Folha mostra que os smartphones com acesso à tecnologia 5G ainda estão muito caros. Adquirir este aparelho, portanto, só valeria a pena para quem efetivamente desfrutasse das vantagens tecnológicas do 5G –exponencial aumento da velocidade de tráfego de dados, mais conexões, redução do consumo de bateria, redução da latência (delay na voz e imagem)– para trabalhar.

Essa ânsia por se atualizar tecnologicamente é perfeitamente compreensível. Mas é uma corrida que não podemos vencer. O desenvolvimento de novas funcionalidades e equipamentos é constante, e isso custa caro, ao menos no momento em que as novidades são lançadas. Quando o preço cai mais, as empresas já estão apresentando novos avanços.

Isso vale para smartphones, games, notebooks, televisores e eletrodomésticos. Essas transformações são inteligentes formas de nos fazer ir às compras, embora ainda tenhamos bons produtos em uso. A impressora, por exemplo, antes era um equipamento relativamente barato, com cartuchos caros, que tinham de ser frequentemente trocados.

Hoje, há vários modelos muito mais caros, que permitem o reabastecimento dos tanques de tinta. É um conceito ecológico e econômico, porque as tintas duram muito mais. Mas, no ato da compra, você paga bem mais do que antes.

O avô de um amigo meu, na primeira metade do século XX, juntava seus suados ganhos como barbeiro para comprar sempre a versão mais moderna de toca-discos. Era uma paixão à qual ele dedicava muito trabalho e esforço. Nas últimas décadas, contudo, a tecnologia mudou o mundo, a partir da consolidação e da popularização da Internet.

Assim, é quase impossível ter sempre o recurso mais inovador, porque velhos fantasmas –inflação, desemprego e baixa renda– voltaram a nos atormentar. As empresas estão ávidas para vender, principalmente pelo telemarketing, mas nem sempre os vendedores têm conhecimento técnico para auxiliar o consumidor. Então, há que equilibrar o gosto pelas novidades com a renda, em uma realidade muito, muito difícil.

domingo, 22 de maio de 2022

Febre 'Wordle' tem variações criativas, cópias e até golpes

FSP, Tiago Ribas, 17.mai.2022

Lançado em outubro do ano passado, o joguinho de adivinhação de palavras "Wordle" se tornou rapidamente uma das maiores sensações da internet. Simples, viciante e facilmente copiável, ele vem servindo de inspiração para vários programadores, que brincam com a fórmula do título original criado pelo americano Josh Wardle e vendido para o jornal The New York Times por alguns milhões de dólares (o valor exato não foi revelado).

Há jogos que utilizam as mesmas regras, mas com palavras com número variável de letras ("Hello Wordl"), em que você precisa adivinhar uma equação ("Nerdle"), em que o objetivo é adivinhar um país ("Worldle") e com termos ligados a assuntos específicos, que vão de mudanças climáticas ("A Greener Worldle") à cantora pop Taylor Swift ("Taylordle"). Para quem não se arrisca no inglês, existem ainda versões em português: "Termo" (meu favorito) e "Letreco" são as mais conhecidas.


Entre essas variações, uma das mais engenhosas é "Absurdle", uma espécie de antítese de "Wordle". O jogo segue as mesmas regras básicas (só que com número ilimitado de tentativas) e usa o mesmo dicionário de palavras do título original, mas o computador pode alterar a palavra secreta de forma a atrapalhar o jogador.

Em uma postagem em seu blog, o desenvolvedor do jogo --que já criou uma versão de "Tetris" em que o jogador recebe sempre a pior peça possível, chamada "Hate Tetris"-- explica a lógica por trás do game.


  • Ao invés de selecionar uma única palavra secreta, o computador escolhe um grupo de termos que obedecem as dicas que o jogador conseguiu até aquele momento.
  • Só é possível vencer o jogo com muita paciência, um bom vocabulário e depois de várias letras terem sido testadas.

Mas não são só desenvolvedores bem intencionados que aproveitam a mania. Houve uma multiplicação de cópias descaradas de "Wordle" em lojas de aplicativos e sites que buscam lucrar com anúncios


"Vender para o The New York Times foi uma forma de me afastar disso [lidar com cópias do jogo]. Eu não queria ficar pagando um advogado para entrar com ordens de cessação de um jogo que nem está me dando dinheiro", afirmou Wardle na Game Developer Conference, em San Francisco, segundo o jornal The Independent.


Também é preciso tomar cuidado com versões aparentemente inofensivas de "Wordle", mas que funcionam como um malware (programa malicioso).

O usuário do Twitter Eduardo Henrique, por exemplo, descobriu embutido no código do jogo "Olavooo" um minerador de criptomoedas, que suga o poder de processamento do computador do jogador e pode resultar em superaquecimento e travamentos. A suspeita foi depois confirmada pelo site de tecnologia Tecnoblog.

Se conhecer todas essas versões de "Wordle" te deixou com vontade de inventar seu próprio quebra-cabeça, você pode experimentar o "Wordle Generator" e desafiar seus amigos para uma partida. Você consegue resolver o enigma que nós criamos?


+


play (dica de game, novo ou antigo, para você testar)


Knotwords
(Android, iOS e PC)
Desta vez, a dica vai por conta de um especialista: "Se você gosta de 'Wordle' você deveria experimentar 'Knotwords'. É um jogo diário de palavras incrivelmente elegante. O que mais me impressionou é que, apesar de sua aparência enganosamente simples, ele foi claramente construído com muito esmero e cuidado", disse Josh Wardle no Twitter.


Febre 'Wordle' tem variações criativas, cópias e até golpes

Bitcoin 2022

Criptomoedas derretem em tempestade perfeita de medo e pânico

Fortes perdas nesta semana ilustraram riscos de criptomoedas experimentais e não regulamentadas


David Yaffe-Bellany, Erin Griffith, Ephrat Livni

SAN FRANCISCO | THE NEW YORK TIMES

FSP, 14.mai.2022


O preço do bitcoin caiu a seu ponto mais baixo desde 2020. A grande exchange de criptomoedas Coinbase despencou em valor. Uma criptomoeda que se promovia como um meio de troca estável entrou em colapso. E mais de US$ 300 bilhões (R$ 1,52 trilhão) foram dizimados pela queda dos preços das criptomoedas desde segunda-feira (9).


O mundo das criptomoedas entrou em colapso nesta semana, numa liquidação que ilustrou claramente os riscos das moedas digitais experimentais e não regulamentadas. Mesmo que celebridades como Kim Kardashian e magnatas da tecnologia como Elon Musk tenham falado sobre criptomoedas, o declínio acelerado de moedas virtuais como bitcoin e ether mostra que, em alguns casos, dois anos de ganhos financeiros podem desaparecer da noite para o dia.


O momento de pânico foi a pior redefinição das criptomoedas desde que o bitcoin despencou 80% em 2018. Mas desta vez a queda dos preços tem um impacto mais amplo, porque mais pessoas e instituições detêm moedas. Críticos disseram que o colapso estava muito atrasado, enquanto alguns traders compararam o alarme e o medo ao início da crise financeira de 2008.


"Parece a tempestade perfeita", disse Dan Dolev, analista que cobre empresas de criptomoedas e tecnologia financeira no Mizuho Group.

Durante a pandemia de coronavírus, as pessoas correram para as moedas virtuais, com 16% dos americanos hoje possuindo algumas, contra 1% em 2015, segundo uma pesquisa do Pew Research Center. Grandes bancos como Northern Trust e Bank of America também entraram na onda, junto com fundos de hedge, alguns usando dívidas para aumentar ainda mais suas apostas em criptomoedas.


Os primeiros investidores provavelmente ainda estão em posição confortável. Mas os rápidos declínios desta semana foram especialmente agudos para os investidores que compraram criptomoedas quando os preços subiram no ano passado.


A queda das criptomoedas faz parte de uma retração mais ampla de ativos de risco, estimulada pelo aumento das taxas de juros, inflação e incerteza econômica causada pela invasão da Ucrânia pela Rússia. Esses fatores agravaram a chamada ressaca pandêmica, iniciada quando a vida começava a voltar ao normal nos Estados Unidos, prejudicando os preços das ações de empresas como Zoom e Netflix, que prosperaram durante os bloqueios.


Mas o declínio da criptomoeda é mais grave do que a queda mais ampla do mercado de ações. Enquanto o S&P 500 caiu 18% até agora este ano, o preço do bitcoin baixou 40% no mesmo período. Somente nos últimos cinco dias o bitcoin caiu 20%, em comparação com um declínio de 5% do índice S&P 500.


Não está claro quanto tempo o colapso das criptomoedas poderá durar. Os preços delas se recuperaram de grandes perdas, embora em alguns casos tenham levado vários anos para atingir novos patamares.


"É difícil dizer: 'É o Lehman Brothers?'", disse Charles Cascarilla, fundador da empresa de blockchain Paxos, referindo-se à empresa de serviços financeiros que faliu no início da crise financeira de 2008. "Vamos precisar de mais algum tempo para descobrir. Não é possível responder tão rápido."

Os preços das criptomoedas atingiram um pico no final do ano passado, e desde então caíram à medida que cresciam os temores sobre a economia. Mas o colapso ganhou força nesta semana, quando a TerraUSD, uma stablecoin, implodiu. As stablecoins, que deveriam ser um meio de troca mais confiável, normalmente são atreladas a um ativo estável, como o dólar, e não deveriam flutuar em valor. Muitos traders as usam para comprar outras criptomoedas.


A TerraUSD teve o apoio de empresas de capital de risco confiáveis, incluindo Arrington Capital e Lightspeed Venture Partners, que investiram dezenas de milhões de dólares para financiar projetos de criptomoedas construídos sobre a moeda. Isso deu "uma falsa sensação de segurança a pessoas que de outra forma não saberiam sobre essas coisas", disse Kathleen Breitman, uma das fundadoras da plataforma de criptomoedas Tezos.


Mas a TerraUSD não era lastreada em dinheiro, títulos do Tesouro ou outros ativos tradicionais. Em vez disso, extraía sua suposta estabilidade de algoritmos que vinculavam seu valor a uma criptomoeda irmã chamada Luna.


Esta semana, a Luna perdeu quase todo o seu valor. Isso imediatamente teve um efeito indireto no TerraUSD, que caiu para um mínimo de US$ 0,23 (R$ 1,1) na quarta (11). À medida que os investidores entravam em pânico, o tether, a stablecoin mais popular e um pilar do comércio de criptomoedas, também vacilou em relação a seu próprio "peg" de US$ 1 (R$ 5,1). O tether caiu tão baixo quanto US$ 0,95 (R$ 4,8) antes de se recuperar. (O tether é lastreado em dinheiro vivo e outros ativos tradicionais.)


Outras partes do ecossistema criptográfico azedaram ao mesmo tempo. Na terça-feira (10), a Coinbase, uma das maiores exchanges de criptomoedas, reportou um prejuízo trimestral de US$ 430 milhões (R$ 2,17 bilhões) e disse ter perdido mais de dois milhões de usuários ativos. O preço das ações da empresa caiu 82% desde sua estreia triunfante no mercado, em abril de 2021.


Brian Armstrong, CEO da Coinbase, tentou tranquilizar os clientes no Twitter de que a empresa não corria o risco de falir depois que uma informação legal exigida sobre a propriedade de seus ativos provocou pânico.


Os preços das criptomoedas também caíram vertiginosamente. O preço do bitcoin baixou a US$ 26 mil (R$ 131,5 mil) na quinta (12), queda de 60% em relação ao pico de novembro, antes de subir um pouco. Desde o início do ano, o movimento do preço do bitcoin tem refletido de perto o da Nasdaq, uma referência fortemente inclinada para ações de tecnologia, sugerindo que os investidores o estão tratando como qualquer outro ativo de risco.

O preço do ether também despencou mais de 30% na última semana. Outras criptomoedas, como solana e cardano, também caíram.

\

Qualquer pânico pode ser exagerado, disseram alguns analistas. Um estudo da Mizuho mostrou que o proprietário médio de bitcoin na Coinbase não perderia dinheiro até que o preço da moeda digital caísse abaixo de US$ 21 mil (R$ 106,26 mil). Aí, de acordo com Dolev, é onde pode ocorrer uma verdadeira espiral da morte.


"O bitcoin estava funcionando desde que ninguém perdesse dinheiro", disse ele. "Depois de voltar a esses níveis, é meio que o momento 'Oh, meu Deus'."


Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves


Criptomoedas derretem em tempestade perfeita de medo e pânico

+

O derretimento do bitcoin e os ditados populares

Se esses ditados dessem respostas decisivas, seríamos todos sábios. E ricos.

Deirdre Nansen McCloskey, FSP, 17.mai.2022


O bitcoin derreteu uma semana atrás e perdeu metade de seu valor. O que podemos aprender com isso?


Apenas alguns poucos princípios da ciência econômica são lucrativos pessoalmente, contra os muitos que são socialmente lucrativos. A economia é uma filosofia mundana, não conselhos de investimento.


Mas um dos princípios lucrativos seria, nas palavras do provérbio conhecido, "não coloque todos seus ovos no mesmo cesto". Se você tivesse um vigésimo de seu dinheiro em bitcoin, não seria mal. Se 19 vigésimos estivessem em bitcoin, epa! Diversifique.


Mas há um ditado contrário. Sempre há. Se os ditados populares dessem respostas decisivas, seríamos todos sábios. E ricos. Mas os ditados vêm em pares contraditórios. Muitas mãos tornam leve o trabalho. Cozinheiros demais estragam a sopa.


O ditado contrário é: coloque todos seus ovos no mesmo cesto, mas vigie o cesto. Isso parece inteligente. Acompanhe o preço e venda seus ativos quando o preço cair 10%. Entre para um clube de investimentos e converse sobre bitcoin todas as noites depois do trabalho. Procure conselhos prudentes de investimento de um assessor profissional qualificado. Fique esperto.


Infelizmente, há um segundo princípio da ciência econômica segundo o qual esses conselhos são inúteis. Completamente. Seu assessor financeiro qualificado deveria, se se pautasse pela consciência, fechar seu escritório e pendurar uma placa na porta dizendo "Diversifique!".


O princípio vem envolto numa pergunta proverbial: se você é tão esperto, por que não está rico? Pergunte isso sempre que alguém lhe oferecer alguma coisa de graça. Os adultos sabem disso, ou o aprendem do jeito difícil, como eu aprendi certa vez, perdendo US$ 10 mil em um clube de investimentos, especulando com taxas de câmbio.


A explicação econômica é simples e decisiva. Se seu assessor profissional qualificado, ou um economista famoso que se baseia num modelo estatístico, ou, ainda, seu primo João estão prevendo que o preço do bitcoin vai subir 10% no próximo mês, não acredite.


Você está autorizado pela ciência econômica real a disparar perguntas retóricas agressivas enquanto recua. "Por que você não cala a boca e lucra você mesmo? Como você pode saber disso? Se pessoas tão burras quanto você sabem, por que o preço não sobe na próxima hora?"


Aceite meu conselho pessoal: diversifique.


E considere a filosofia mundana. Se os economistas soubessem fazer previsões acertadas o bastante para orientar a economia, todos eles seriam ricos. Epa...


Opinião - Deirdre Nansen McCloskey: O derretimento do bitcoin e os ditados populares

Bitcoin age cada vez mais como uma mera ação de tecnologia

Traders estão tratando a criptomoeda, antes considerada reserva de longo prazo, como um investimento especulativo


David Yaffe-Bellany, FSP, 13.mai.2022


O bitcoin foi concebido há mais de uma década como "ouro digital", uma reserva de valor de longo prazo que resistiria a tendências econômicas mais amplas e forneceria uma proteção contra a inflação.


Mas a queda do preço do bitcoin no mês passado mostra que essa ideia está muito longe da realidade. Em vez disso, os traders estão tratando cada vez mais a criptomoeda como apenas um investimento especulativo em tecnologia.


Desde o início deste ano, o movimento dos preços do bitcoin se assemelha ao do Nasdaq, referência fortemente influenciada por ações tecnológicas, segundo uma análise da empresa de dados Arcane Research.


Isso significa que, à medida que o preço do bitcoin caiu mais de 25% no mês passado, para menos de US$ 30 mil (R$ 154 mil) na quarta-feira (11) –menos da metade do pico de novembro–, a queda veio quase empatada com um colapso mais amplo das ações de tecnologia, uma vez que os investidores enfrentavam taxas de juros mais altas e a Guerra da Ucrânia.

A crescente correlação ajuda a explicar por que as pessoas que compraram a criptomoeda no ano passado, esperando que ela valorizasse, viram seu investimento despencar. Embora o bitcoin sempre tenha sido volátil, sua crescente semelhança com ações de tecnologia arriscadas mostra claramente que sua promessa como um ativo transformador ainda não foi cumprida.


"Isso deslegitima o argumento de que bitcoin é como ouro", disse Vetle Lunde, analista da Arcane. "As evidências apontam a favor de o bitcoin ser apenas um ativo de risco."


A Arcane Research atribuiu uma pontuação numérica entre 1 e -1 para captar a correlação de preços entre o bitcoin e o Nasdaq. Uma pontuação 1 indicava uma correlação exata, significando que os preços se moviam em conjunto, e uma pontuação -1 representava uma divergência exata.

Desde 1º de janeiro, a média de 30 dias da pontuação bitcoin-Nasdaq se aproximou de 1, atingindo 0,82 nesta semana, o mais próximo que já esteve de uma correlação exata de 1 para 1. Ao mesmo tempo, o movimento do preço do bitcoin divergiu das flutuações do preço do ouro, ativo com o qual foi comparado com mais frequência.


A convergência com o Nasdaq cresceu ao longo da pandemia de coronavírus, impulsionada em parte por investidores institucionais como fundos de hedge, doações e family offices que despejaram dinheiro no mercado de criptomoedas.


Ao contrário dos idealistas que promoveram o entusiasmo inicial pelo bitcoin na década de 2010, esses traders profissionais estão tratando a criptomoeda como parte de uma carteira maior de investimentos em tecnologia, de alto risco e alto retorno.


Alguns deles sofrem pressão para garantir retornos de curto prazo para os clientes e estão menos comprometidos ideologicamente com o potencial de longo prazo do bitcoin. E quando perdem a fé na indústria de tecnologia de forma mais ampla isso afeta seus negócios de bitcoin.


"Cinco anos atrás, as pessoas que estavam em cripto eram pessoas criptográficas", disse Mike Boroughs, fundador do fundo de investimento em blockchain Fortis Digital. "Agora você tem gente em toda a gama de ativos de risco. Então, quando eles são atingidos lá, isso afeta sua psicologia."

Preocupações no mercado de ações –afetadas por tendências econômicas desafiadoras, incluindo a invasão da Ucrânia pela Rússia e os níveis históricos de inflação– se manifestaram especialmente na queda das ações de tecnologia este ano. A Meta, empresa antes conhecida como Facebook, caiu mais de 40%. A Netflix perdeu 70% do seu valor.


Na quarta-feira (11), as ações da exchange de criptomoedas Coinbase despencaram 26%, depois de relatar uma queda na receita e perda de US$ 430 milhões (R$ 2,20 bilhões) no primeiro trimestre. As ações da empresa caíram mais de 75% no total este ano.


O Nasdaq já está em território de baixa, tendo encerrado a quarta-feira com queda de 29% em relação ao recorde de meados de novembro. Foi também em novembro que o preço do bitcoin atingiu um pico de quase US$ 70 mil (R$ 359 mil). A queda foi um choque de realidade para os evangelistas do bitcoin.


"Havia essa crença inegável no varejo de que o bitcoin no final do ano passado era uma proteção contra a inflação –era um porto seguro, substituiria o dólar", disse Ed Moya, analista de criptomoedas da trading Oanda. "E o que aconteceu foi que a inflação começou a ficar muito feia e o bitcoin perdeu a metade do valor."


Os preços de outras criptomoedas também foram esmagados. O preço do ether, a segunda criptomoeda mais valiosa, caiu cerca de 25% desde o início de abril, para menos de US$ 2.300 (R$ 11.800). Outras, como solana e cardano, também sofreram quedas vertiginosas este ano.


O bitcoin se recuperou de grandes perdas antes, e seu crescimento em longo prazo continua impressionante. Antes do boom dos preços das criptomoedas na pandemia, seu valor pairava bem abaixo de US$ 10 mil (R$ 51,3 mil hoje). Os verdadeiros crentes, que se autodenominam maximalistas do bitcoin, permanecem inflexíveis em que a criptomoeda acabará por romper sua correlação com os ativos de risco.


Michael Saylor, CEO da empresa de inteligência de negócios MicroStrategy, gastou bilhões de dólares em bitcoin, acumulando um estoque de mais de 125 mil moedas. Como o preço do bitcoin caiu, as ações da empresa despencaram cerca de 75% desde novembro.


Em um e-mail, Saylor culpou "traders e tecnocratas" que não apreciam o potencial de longo prazo do bitcoin para transformar o sistema financeiro global.


"No curto prazo, o mercado será dominado por aqueles com menos apreço pelas virtudes do bitcoin", disse ele. "No longo prazo, os maximalistas terão acertado, porque bilhões de pessoas precisam dessa solução, e a conscientização se espalha para milhões a cada mês."David Yaffe-Bellany


Bitcoin age cada vez mais como uma mera ação de tecnologia

Arquivo do blog