Sem refinamento e sempre rasteiro, game traz 12 missões ambientadas em cenários da franquia cinematográfica
João Varella - FSP, 05.09.21
Nada no game "Aliens: Fireteam Elite" é digno de nota. É um jogo de tiro com elementos vistos em inúmeros outros títulos do gênero. Entrega menos do que a velha referência "Gears of War" ou o mais recente "World War Z".
O game da Cold Iron Studios traz a ambientação do filme "Aliens" e, portanto, mantém a notória dificuldade de desdobrar essa propriedade intelectual, hoje nas mãos da Disney. Atenção, não confundir com "Alien", o "S" é relevante.
A jornada da tenente Ripley, papel que catapultou Sigourney Weaver ao estrelato, começou em "Alien", filme de 1979 dirigido por Ridley Scott. "Guerra nas Estrelas", lançado dois anos antes, parecia uma dócil telenovela perto da ficção científica com o assustador alienígena. Um monstrengo xenomorfo, o "Oitavo Passageiro", conforme o subtítulo em português do filme indicava.
O longa mudou não só a história do cinema, mas também dos videogames. "Metroid", de 1986, deve a "Alien" sua estética, ambientação e diversos elementos do enredo. A inspiração virou homenagem ao diretor do filme com o batismo do antagonista Ridley.
No mesmo ano de "Metroid" surge a continuação de "Alien". Dirigido por James Cameron, "Aliens" infestou a tela de bichos. Para não adotar um subtítulo esdrúxulo como “do nono ao nonagésimo passageiro”, adotou "Aliens, O Resgate". Com tanto xenomorfo pela frente, o jeito foi chamar fuzileiros ao estilo "Tropas Estelares", do livro de Robert A. Heinlein. Um cavalo de pau no tom da série.
Cameron fez um bom filme, o que instalou uma dicotomia na marca. A dúvida entre ação e terror ronda as sequências em filmes e outras mídias.
O último grande momento de "Alien" foi nos videogames. "Alien: Isolation", de 2014, não ficou em cima do muro, resgatou o sentimento de terror do filme original, era Ridley Scott de carteirinha.
Lançado em agosto, o jogo "Aliens: Fireteam Elite" faz o contraponto, é James Cameron acima de todos. O enredo versa sobre um pedido de socorro do planeta LV-895, que foi atacado por xenomorfos. A exposição da história é ríspida, feita por meio de monólogos de personagens espalhados por um hangar.
Ao discursar, o locutor é enquadrado num plano americano fazendo pequenos gestos, porém sem mexer os lábios enquanto sua voz é emitida. Com essa exposição entre o desengonçado e o constrangedor, fica claro que o foco não é a história.
O jogo oferece 12 missões ambientadas em cenários da série cinematográfica. Sempre consistem em ir de um ponto a outro enfrentando hordas de inimigos no caminho, eventualmente com uma pausa para preparação. Há alguns sustos, como um bicho que surge do nada por um duto de ventilação de um corredor estreito, mas logo o truque fica manjado.
Para enfrentar os alienígenas babões, há cinco classes de personagem com diferentes habilidades. “Fireteam” segue os macetes de jogos como serviço. Há inúmeras barras de experiência a serem preenchidas e personalizações visuais. De novo, tudo opaco, nada que instigue o jogador a repetir a mesma tarefa.
Nas fases, os jogadores contam com a ajuda da sargento Alejandra Herrera, dublada por Melissa Medina.
Ela é uma espécie de Galvão Bueno estressada, narrando o que se vê em tela. Cedo, o tom de urgência e as frases prontas caem na mesmice. Ainda assim, antes a voz dela do que as armas que soam feito britadeiras ou exame de ressonância magnética.
O auxílio mais importante vem de outros jogadores. As partidas são realizadas em modo cooperativo online para três membros. Isso dá bossa, faz com que surjam experiências instigantes, ainda mais com o uso de microfones.
Se o sistema não encontrar dois humanos, o computador preenche o time. Não é recomendável. As ações dos bonecos com inteligência artificial são sem graça, se resumem a acompanhar o jogador e descer o dedo no gatilho, vez que outra até atrapalhando. Melhor cancelar e tentar outra vez, até formar um time com pessoas.
"Aliens: Fireteam Elite" entrega aquilo que propõe sem refinamento, bate continência à ideias conhecidas, sempre rasteiro. É a zica da letra "S".
ALIENS: FIRETEAM ELITE
- Onde PlayStation, Xbox e PC
- Preço A partir de R$ 129,90
- Classificação 16 anos
- Elenco Melissa Medina, Leilani Barrett, Haylie Wu Chow
- Estúdio Cold Iron Studios
- Publicadora Cold Iron Studios, Focus Home Interactive
https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2021/09/aliens-fireteam-elite-mantem-zica-da-marca-com-acao-generica.shtml?